Tendo o Peru como país-tema das atividades do Ateliê Américas, a disciplina de projeto arquitetônico do primeiro semestre de 2020 dá sequência aos estudos iniciados em 2019 sobre o contexto da produção habitacional empreendida no concurso PREVI – Proyecto Experimental de Vivienda -, em Lima, em 1969, analisando e modelando seis das 26 proposições realizadas. Na primeira edição da disciplina, o resultado dos trabalhos foi apresentado em uma exposição na Escola de Arquitetura da UFMG. Considerando a excepcionalidade da pandemia e o modo remoto em que a disciplina foi concluída, nesta edição apresentam-se os seus resultados nesta exposição virtual produzida pelos próprios estudantes. O conjunto dos seis projetos estudados pode ser visto na primeira parte. Na segunda parte, apresentam-se seis diferentes proposições de habitação coletiva, elaboradas pelos grupos de estudantes, reinterpretando diversas estratégias de projeto presentes nas obras estudadas.

 

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OS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS

 

A disciplina de Projeto de Arquitetura propõe um exercício de projeto de habitação coletiva a partir dos estudos das propostas habitacionais realizadas para o concurso PREVI, em Lima. O trabalho é desenvolvido em dois momentos:

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1 - modelamento das propostas arquitetônicas do PREVI e reconhecimento do contexto físico e cultural;

2 - desenvolvimento técnico das proposições, em nível de estudo preliminar, de sistemas para habitação social a partir da análise crítica dos conceitos presentes nos projetos estudados.

 

Após o módulo, espera-se que os estudantes sejam capazes de reconhecer a estrutura espacial e a lógica de organização dos diferentes tipos de habitação coletiva e projetar intervenção edificada de múltiplos pavimentos para o mesmo fim; de projetar novas tipologias para habitação mínima com flexibilidade e indeterminação funcional; de representar corretamente as intervenções projetadas, demonstrando a viabilidade das soluções arquitetônicas e construtivas. Para tanto, desenvolvem-se as seguintes atividades:

 

-estudo e análise dos projetos de referência em um dado contexto cultural;

 

-abordagem de projeto de uma construção de média escala orientada pelos princípios de indeterminação e flexibilidade;

 

-estudo de variações tipológicas das unidades habitacionais;

 

-leitura, modelagem - física e digital - e domínio gráfico de projeto de média escala.

 

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O PREVI

 

Realizado graças ao empenho de um arquiteto que se tornou Presidente da República, Fernando Belaúnde Terry, o concurso PREVI foi organizado em duas seções: a primeira, com 13 arquitetos estrangeiros convidados; a segunda, aberta aos arquitetos peruanos registrados, tendo sido selecionados outros 13 destes para a realização do experimento.

 

A proposta do concurso se fundamentava em três principais conceitos urbanísticos:

- grande densidade e baixa altura;

- estudos das formas urbanas tradicionais;

- desenho das casas considerando transformação e crescimento.

 

Entre o momento do concurso e a realização dos protótipos, algumas soluções construtivas foram revistas a fim de aumentar a padronização dos elementos construtivos principais - blocos de concreto e lajes pré-fabricadas - o que reduziu, por outro lado, a diversidade material e tecnológica do conjunto. Para o desenvolvimento dos projetos pelos estudantes, foram adotados tanto os estudos apresentados ao concurso como as obras construídas, de modo a ampliar a diversidade de soluções materiais e de tecnologias construtivas.

 

Dos 26 projetos realizados, foram estudados nesse módulo de PFLEX os desenvolvidos pelos seguintes arquitetos:

 

1 – José Luís Ígnez de Ozoño, Antonio Vázquez de Castro (Espanha)

2 – Oskar Hansen, Svein Hartley (Polônia)

3 – Atelier 5 (Suíça)

4 – Luis Miró-Quesada, Oswaldo Núñez, Carlos Williams (Peru)

5 – Luis Vier, Consuelo Zanelli (Peru)

6 – Ernesto Paredes (Peru)

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OS TRABALHOS

 

Partindo dos conceitos que fundamentaram os projetos realizados no PREVI, cada equipe desenvolveu uma proposta de habitação coletiva, tendo como ponto de partida a ideia de sistema aplicada em três escalas:

 

- na organização urbana, integrando espaços livres, vias de automóveis e pedestres e parcelas privadas;

 

- na organização espacial das unidades, articulando áreas livres e construídas, considerando flexibilidade e crescimento em uma lógica arquitetônica que associasse os desenhos da arquitetura e da cidade;

 

- na organização construtiva, diferenciando os elementos mais permanentes – estruturas portantes e infraestrutura predial – dos elementos menos permanentes – vedações e partições internas – a fim de conciliar ordem e transformação.

 

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A DISCIPLINA

 

A disciplina que resultou nos trabalhos aqui expostos se estruturou em três momentos:

 

- o primeiro, do estudo de projetos e obras, aprofundando a compreensão dos seus sistemas espaciais e construtivos, dos materiais e dimensões, reconhecendo ideias estruturadoras e trazendo-as para alimentar novas proposições. Implica, para além das obras especificamente estudadas, uma aproximação sensível a outra cultura e a outro território. Esse momento contou com aulas presenciais no mês de março de 2020;

 

- o segundo, do exercício criativo em equipe, deslocando conceitos, conectando ideias, repropondo soluções conhecidas em novas e diferentes aplicações, atualizando tecnologicamente algumas proposições, recontextualizando geográfica, cultural e temporalmente antigas ideias. Seu desenvolvimento ocorreu, em caráter excepcional em virtude da emergência da pandemia, através de orientações remotas síncronas;

 

- o terceiro, da exposição virtual, produzida coletivamente, escolhendo a plataforma digital, propondo uma estratégia gráfica e de apresentação, produzindo o material gráfico, organizando equipes de produção de conteúdo, produzindo o website.

 

Estudo, trabalho criativo e comunicação integram-se para estruturar um processo pedagógico que procura superar a lógica de ensino de projeto baseada na orientação individual e na mera resolução de problemas previamente apresentados pelo professor, almejando ampliar a capacidade crítica para a identificação e formulação de questões de projeto, e a autonomia para elaborar e comunicar as suas diversas soluções.

 

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Carlos Alberto Maciel

Professor

Setembro de 2020

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